SISTRUT Software e Tecnologia
     Grupo: Relacionamento entre Empresas de Projeto e Empresas de Software
    Início: 08/Julho/1996
Patrocínio: SISTRUT

A SISTRUT reproduz abaixo, o texto publicado no jormal da ABECE Associação
Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural de número 5, referente ao tema
do grupo de estudos "Relacionamento Ético entre Empresas de Projeto Estrutural
e Empresas que Comercializam Software". 

A ABECE - Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural
criou um grupo de estudos formado por profissionais que atuam na área de
projetos estruturais e empresas que comercializam software para engenharia
estrutural.  O objetivo foi analisar a relação de trabalho entre eles, para
se obter um melhor comportamento de ambas as partes em relação à forma com
que seus trabalhos seriam divulgados, prevendo as conseqüências deste
procedimento. O relacionamento técnico de trabalho entre estes grupos tem
sido bom, todavia preocupa-se a ABECE com a forma com que o marketing
utilizado junto à terceiros vem depreciando o trabalho dos engenheiros de
projetos, resultando que as empresas que comercializam ou desenvolvem
software transformam-se em vilãs. Para o leigo ou para o contratante de
projetos, basta digitar meia dúzia de números para o projeto sair pronto.
É exatamente esta idéia que deve ser combatida, pois deprecia o real sentido
de "Engenharia", atribuindo ao software qualidade que ele não possui, dando
a entender que qualquer indivíduo com algumas noções de construção/estrutura,
engenheiro ou não, possa fazer um bom Projeto Estrutural com o auxílio de
um software. Das reuniões deste grupo de estudos foram levantados acertos
e erros de ambas as partes, cujos principais tópicos levantamos a seguir:

ASPECTOS GERAIS DA ATUAÇÃO DAS EMPRESAS DE PROJETO ESTRUTURAL

As empresas de projeto analisaram e recomendam que os projetistas atuem
junto a seus clientes de tal forma que os mesmos tomem consciência de que:

A ENGENHARIA NÃO É CIÊNCIA EXATA
Existe no mercado a imagem de que, situando-se o exame vestibular para
Engenharia na área de Exatas, seja a sua atividade o exercício de uma
ciência exata. Na verdade, porém, atuar na área e aplicar conhecimentos e
ferramentas de origem nas ciências exatas (matemática, física, etc),
porém em fenômenos estatísticos e, portanto, de solução não fechada, ou
seja, que depende da experiência anterior do engenheiro, do seu bom senso
e da chamada boa técnica, que são os conhecimentos incorporados por toda
uma classe de profissionais, sedimentados em experiência reportada a livros,
artigos e palestras ao longo de decênios.

O COMPUTADOR FAZ APENAS CONTAS E ARMAZENA DADOS
Durante anos, mostrar ao cliente que se possuia este computador com aquele
software dava status e vendia o projeto. Hoje sabe-se que não é bem assim,
ocorrendo mesmo o contrário. O fato de o engenheiro ter o "computador + software"
como ferramenta de seu dia a dia leva os contratantes a encará-los como meros
apertadores de botões. Projetar uma estrutura tornou-se atividade altamente
produtiva, rentável, com grandes margens de lucros. Vêem-se clientes
regateando menores preços de projeto alegando que agora ficou mais fácil
projetar.

VALORIZAR A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL E O PROCESSO CONSTRUTIVO.
Ocorre que os contratantes se acostumaram a ver os engenheiros de estruturas
mais como calculistas (o termo explica: aquele que calcula, que quantifica)
do que como profissionais que concebem um projeto buscando sua otimização
tanto na estabilidade quanto na compatibilidade com os projetos
complementares e com o processo construtivo.  A culpa é dos próprios
engenheiros que, para aparentar eficiência, tentavam solucionar um problema
complicado conceitualmente em tempo recorde, justificando: "é só passar no
programa e já lhe dou a resposta". Desta forma, vendeu-se a imagem de que o
computador tudo resolvia e os privilegiados que além dele possuiam software,
eram os super-competentes.

EXISTE UM CUSTO PARA A INFORMATIZACAO E O RETORNO ...
TEM SIDO MUITO MAIOR PARA O CLIENTE.
A eficiência, advinda do alto investimento em equipamentos, programas e
treinamento próprio e do pessoal não resultou em produzir mais projetos por
um custo menor, mas sim, em analisar as estruturas com modelos mais
sofisticados, obtendo delas uma maior quantidade de dados para decidir 
quanto a adequação ao seu fim. Resumindo, uma vez que a ferramenta da 
informática esteja sendo bem utilizada e o engenheiro bem preparado
conceitualmente, deve-se produzir hoje uma quantidade de desenhos com custo equivalente
ao de outrora, porém com modelos, teoricamente, muito mais precisos.
Bom para o cliente que recebe um produto bem mais consistente, ruim para os
projetistas que não são capazes de os conscientizar do verdadeiro valor do
seu trabalho.

HOJE É MAIS DIFÍCIL DISTINGUIR OS BONS DOS MAUS PROFISSIONAIS
Antigamente a própria dificuldade para se iniciar e concluir
satisfatoriamente um projeto no prazo, de forma organizada e contínua,
selecionava os bons profissionais, que eram identificados no mercado pelos
clientes mais facilmente. Hoje mesmo pessoas não habilitadas podem, em tese,
gerar inúmeros desenhos através de um dos softwares disponíveis e, na
verdade, não estar entregando nada. Não é um projeto bem concebido,
bem compatibilizado e de acordo com critérios de detalhamento e
exequibilidade já consagrados pela experiência anterior (boa técnica).
É necessário que os contratantes tenham melhor formação e informação para
reconhecerem os bons projetistas.

PROJETAM-SE SEMPRE PROTÓTIPOS
Finalizando, parece importante difundir a idéia de que o projetista
estrutural lida com prototipos. Cada prédio projetado tem muito pouco a ver
um com outro, mesmo que ambos guardem alguma semelhanca arquitetônica.
Há sempre diferenças: solo, condições topográficas, contenções, etc...
Na indústria da construção civil, diferentemente das demais industrias,
o protótipo é a obra executada e entregue ao mercado. Apesar disto,
o empreendedor da construção civil aufere pouco valor aos projetos e aos
bons projetistas. São estes uma de suas poucas salvaguardas de continuidade
e de progresso tecnológico, espécie de depositários das memórias de
critérios executivos dos cleintes.


ASPECTOS GERAIS DA ATUAÇÃO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE

PROPAGANDA DE DIVULGAÇÃO DO SOFTWARE, PREÇOS E PRAZOS
Quando a propaganda atinge o projetista, este ...
Tem a ilusão de que os projetos são fáceis de serem elaborados.
Assume compromissos junto aos clientes que não consegue cumprir.
Julga que os preços de projetos podem ser muito baixos com a utilização
dos novos recursos.
Não sabe exatamente a que tipo e estágio do projeto os preços
e prazos prometidos pelo fornecedor do software são aplicados.
Quando a propaganda chega às mãos do contratante ...
Este julga que todos os projetistas estruturais cobraram, até então, preços
abusivos e não compatíveis com os custos efetivos e responsabilidades
envolvidas.
Deseja contratar todos os demais projetos com os parâmetros de homem-hora
proporcionais aos prazos descritos na propaganda do software.
Exige o projeto em prazos impossíveis de serem cumpridos.
Julga que pode adquirir um software e substituir o projetista, caso este
não atenda aos preços e prazos divulgados.

FUNÇÃO DO COMPUTADOR NO PROJETO ESTRUTURAL
Há uma idéia frequentemente equivocada a respeito do computador. É uma
máquina pensante, substitui o engenheiro, faz projetos automaticamente, como
surgiu, para onde vai. A maioria dos projetistas estruturais têm uma noção
adequada sobre o assunto mas, tanto para diversos colegas como alguns
contratantes, influenciados com os artigos e propagandas fantasiosas sobre
o computador, imaginam que a ficção onde o computador pensa e tem a
capacidade de fazer projetos automaticamente tornou-se realidade.
Computador é máquina de fazer operações matemáticas e desenhos segundo
certas convenções previamente programadas. Dados fornecidos erroneamente
produzem resultados também errôneos.
Computador não tem capacidade de avaliar a adequação estrutural.

QUE PARTE DO PROJETO FAZ O COMPUTADOR... E A CONCEPÇÃO
Dentre o rol de funções exigidas pelo projeto estrutural podemos citar:
reuniões preliminares com cliente, proposta técnica e comercial, análise de
projeto, definição de detalhes construtivos, concepção, cálculo de
solicitações, dimensionamento, detalhamento, desenho, verificações, reuniões
com o cliente, coordenação interna do projeto, compatibilização de projetos
(arquit. instal. etc), atendimento a dúvidas técnicas do cliente, visita à
obra, elaboração de orçamentos de serviços de projeto, orçamento
quantitativo da obra (fôrma aço e concreto), alterações de projeto, 
administração do projeto (prazos custos qualidade), memorial de cálculo,
cursos de aprimoramento, responsabilidade técnica etc.
Em qual destes ítens o computador pode ajudar. Num determinado ítem, qual
a parcela de automação é realizada pelo computador. Quanto significa 
globalmente o auxílio do computador.

PALESTRAS SOBRE APLICAÇÕES DE INFORMÁTICA NO PROJETO ESTRUTURAL
Os colegas projetistas e também os contratantes (atuais e futuros) devem
ser orientados para o fato de que programa de computador não faz projeto.
Especial ênfase deve ser dada a alunos de faculdades de engenharia.
Computador é simplesmente uma ferramenta de trabalho. Os resultados dos
programas de computador apenas se tornam projeto estrutural após as etapas
de análise, comparação, verificação, correção e validação realizada pelos
engenheiros com experiência suficiente para tais tarefas.

DOCUMENTACAO TEÓRICA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O profissional que vai utilizar um sistema computacional tem o direito e a
obrigação de conhecer a base teórica utilizada para a programação das
instruções contidas nos sofwtares. Com isto fica viável e confiável a
análise e validação dos resultados.
A aplicabilidade de um determinado sofwtare fica definida em função da
base teórica estabelecida pelo fornecedor.

CAMPO DE DIVULGAÇÃO DO SOFTWARE
O fornecedor de software para projeto estrutural tem conceitos e linguagem
semelhantes aos do projetista estrutural. A propaganda dirigida às empresas
de projeto estrutural pode conter detalhes que, muitas vezes, são mal 
interpretados pelo contratante do projeto estrutural.
Quando se anunciam os benefícios na utilização do software, os projetistas 
sabem, pela experiência profissional adquirida, onde estes benefícios são 
bem aplicados e válidos e, onde não são. Ao contrário do projetista, o 
contratante, vai extrapolar as vantagens oferecidas para todo o ciclo do
projeto estrutural indistintamente, formando uma idéia distorcida e errônea
sobre os benefícios oferecidos pelo software. Para empresas contratantes do
projeto estrutural, a propaganda deveria ser restrita ao campo de 
aplicabilidade na sua área de atuação, como por exemplo: integração de 
projetos, projeto executivo da fôrma de madeira, otimização de corte 
de aço, etc.

SELEÇÃO PRÉVIA DOS ADQUIRENTES DO SOFTWARE
Quando possível, o software deve ser comercializado apenas para 
profissionais que tenham formação acadêmica, conhecimento teórico e prático
para que possam compreender, utilizar e produzir resultados confiáveis com
os softwares utilizados. Normalmente, pelas facilidades oferecidas, o 
software é uma importante ferramenta para melhoria da qualidade do projeto.
Entretanto, o profissional usuário do software deve ter a capacidade de 
utilizar estas ferramentas e opções para a elaboração de um projeto de 
melhor qualidade. O inverso também pode ocorrer com muita facilidade, o 
software é uma ferramenta poderosa para produzir maus projetos.
A comercialização deve ser evitada para aqueles profissionais que realmente
não são do ramo de projeto estrutural e querem adquirir os sistemas apenas 
com a finalidade de substituir o projetista estrutural até então contratado.
Atitude similar deve ser considerada para os profissionais (projetistas, 
estagiários, etc) que querem suprir a falta de conhecimento técnico com o
software, embora este apresente, automaticamente, respostas sem o auxílio 
de engenheiro experiente.

DIVULGAÇÃO DE PREÇOS DE SOFTWARES
Quando possível, as condições comerciais devem ser encaminhadas apenas para
os profissionais da área de projeto estrutrual que realmente têm intenções 
de utilizar e, estão capacitados a adquirir os softwares.  O que se deseja 
evitar é a divulgação de preços de forma maciça e generalizada de tal maneira
que atinja o mercado em geral composta por leigos, técnicos, engenheiros e 
arquitetos que não atuam diretamente no projeto estrutural. Esta divulgação
induz estes profissionais a formarem uma idéia errônea e distorcida sobre 
custos e recursos para informatização.

UNIÃO DA CLASSE DE PROJETISTAS ESTRUTURAIS
Pela atuação como fornecedoras das empresas de projetos estruturais, as 
empresas de software devem funcionar como um importante elo de ligação entre
elas. A promoção do intercâmbio entre as empresas de projeto estrutural 
fortalece a classe, colabora com a melhoria da qualidade do projeto, induz
a prática de comportamentos éticos entre as diversas empresas, etc.

Com tudo isto exposto, é conveniente que certas medidas sejam tomadas pelas
empresas de software como pelos escritórios de projeto, no intuito de 
valorizar seus trabalhos. Quando um produtor de software divulga um 
determinado recurso ou característica vinculada à elaboração de um projeto 
a possibilidade deste material ser lido por alguém que não pertença a área 
deve ser pensada. Em função disto, pode ele ter uma interpretação errada do
que foi anunciado, minimizando a realidade do trabalho efetivamente 
desenvolvido pelo projetista.  Da mesma forma, quando o escritório de
projeto utiliza os softwares que possui como marketing, esquecendo de 
divulgar o seu curriculum e experiência em projetos, está indiretamente 
passando a idéia de que somente o software é importante.

Como conclusão dos trabalhos deste grupo, foram relacionados vários 
procedimentos que a ABECE recomenda que sejam adotados, tanto pelos 
escritórios de projeto, como pelas empresas que atuam no desenvolvimento e
comercialização de software que listamos a seguir:


RECOMENDAÇÕES - EMPRESAS DE PROJETO ESTRUTURAL
Valorizar a sua profissão de engenheiro de estruturas, não fazendo com que o cliente leve a impressão de que o computador e os programas tudo resolvem. Valorizar o quinhão de trabalho que envolve a etapa de concepção e de compatibilização com os demais projetos e com o processo construtivo. Alertar os clientes da necessidade de constituirem procedimentos de julgamento equilibrado e efetivo dos profissionais e projetos por eles contratados. Alertar que com a crescente tendência de terceirização dos serviços de construção observada na grande maioria das construtoras, os engenheiros de estruturas vêm se transformando na memória técnica de seus clientes. Desta forma atuam, efetivamente, na aferição da qualidade do processo produtivo, conferindo maior credibilidade e confiabilidade aos empreendimentos, que passam a exibir maiores garantias aos clientes finais.
RECOMENDAÇÕES - EMPRESAS DE SOFTWARE
Evitar propaganda do software quantificando, explicitamente, preços e prazos. Explicar o que é e o que faz o computador no projeto estrutrual. Esclarecer que parte do projeto estrutural faz o computador. Divulgar, em palestras e artigos, que qualquer programa não faz o projeto estrutural completo. Limitar o campo de divulgação do software apenas para os projetistas estruturais. Apresentar documentação teórica e referências bibliográficas sobre os sofwtares comercializados. Limitar a colocação de preços de sofwtare em qualquer material de divulgação. Trabalhar para o fortalecimento da união da classe através da ABECE. Participantes do Grupo : Eng. Sérgio Vieira da Silva Eng. Francisco Paulo Graziano Eng. Marcelo Rozenberg Eng. Marcelo de Paula Picarelli Eng. Harold Hirth Jr. Eng. Nelson Covas

Vejamos então os comentários, opiniões e sugestões apresentadas.


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